
Resposta à pergunta: que é “Esclarecimento”?
Imannuel Kant conceitua o esclarecimento a fim de mostrar a incapacidade da sociedade do século XVIII de se desvencilhar da tutela de outrem, pois a sociedade do período estava limitada por preconceitos que impediam a sociedade moderna tomar a consciência, ou, o esclarecimento dos fatos ocorridos no meio social do contexto, afirma Kant.
De acordo com Kant, o esclarecimento se constitui como “a saída do homem de sua menoridade, da qual ele é culpado”p.63. A culpa é levada pelo homem, segundo o autor, pela incapacidade e falta de decisão humana de prestar serviço a si próprio, sem se apoiar nos conceitos do outro, que se consolida então como seu tutor. Esta inaptidão é mostrada por Kant através da covardia e preguiça, que causariam a comodidade da sociedade humana, ou o homem, de se manter como menor, dependendo sempre, assim, de alguém que mantenha a guisa de condução para tal; assim não se pratica a consciência enquanto tal para conduzir a vida sem dependência de outrem. A comodidade discutida por Kant se forma a partir do momento que não se pratica o ato de pensar, pois, é mais fácil, menos desgastante e muito mais cômodo pagar alguém para fazer o serviço no qual estamos destinados a cumprir. Este exemplo pinta com cores vivas o que Kant tem por conceito o esclarecimento e a comodidade, a “solução” para esta situação, descrita por Kant como errônea, é a vontade humana de se libertar dos laços de seus tutores, no qual, para se aprender a andar é preciso cair diversas vezes. Contudo, ao apontar a solução, Kant expõe mais uma dificuldade, a de se desvencilhar da natureza que fomos criados ou educados, haja vista que o homem foi instruído a partir de formulas e conceitos que foram passados pelos tutores.
E possível que haja um esclarecimento próprio, no entanto para isso é preciso que exista a liberdade do individuo enquanto ser pensante, isso fatalmente pode ocorrer se tal liberdade for concedida a ele, assim os próprios libertos poderão se tornar os grandes agitadores do esclarecimento, espalhando assim a consciência de que cada ser humano deve pensar por si só. Para que isto aconteça a liberdade é para Kant fundamental, pois o esclarecimento só acontece se houver a liberdade de pensamento e do agir, sendo cada um responsável por seus atos. Isto é revolucionário para o período que Kant escreve, pois havia limites ainda eclesiástico para o pensar, a liberdade. A liberdade é a precursora para o esclarecimento, assim, o uso publico da razão se tornaria uma conseqüência do esclarecimento. A crítica de Kant a Igreja aparece visível no texto a todo o momento, pois ao exemplificar: “o sacerdote proclama: não raciocineis, mas crede! (um único senhor no mundo diz: raciocinais o tanto quando quiserdes, e sobre o que quiserdes, mas obedecei!)” p. 65.
Encontra-se aqui por todos os lugares as limitações impostas pelas instituições detentoras do pensar, entre elas a Igreja, então, é se libertando desses preconceitos que se consolida o esclarecimento, é se libertando dos tutores, a Igreja, o Exército, o Estado, entre outros, que há a consolidação do esclarecimento, afirma Kant.
Logo, esta transparência dada por Kant com suas críticas a instituições que atravancam a liberdade individual pode ser transportada para a realidade do campo educacional brasileiro dos tempos atuais. A década de 1930, com o golpe militar de Getúlio Vargas, anos após, pregou a política das escolas técnicas, no qual existiam para suprir a necessidade educacional do país que se mostrava como precária. Assim o espaço para se pensar enquanto filósofo ou cientista era restrito aos filhos da elite brasileira do contexto, transformados em boa educação. Este modelo de educação permanece até os dias atuais, no qual, o Estado enquanto responsável pela educação, lança propostas que não beneficiam o amadurecimento intelectual dos aprendizes, pregando novamente a política das capacitações técnicas.
Portanto, a critica de Kant, por mais que tenha se produzido no século XVIII tem grande validade para o contexto brasileiro dos dias atuais, pois chama a atenção para a necessidade de romper com os nossos tutores sociais, o Estado, a Igreja e demais instituições que propagam a politicagem de segregação, que muitas vezes é passada despercebida, em formas de escolas técnicas. Assim como no período ditatorial, sem qualquer preocupação com o esclarecimento da sociedade como se constituindo um todo e mais importante para o avanço da nação enquanto tal.
Por: MAGAIVER LUIZ.
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